Aposto contigo que não sabias…
Em 2021 os portugueses gastaram o dobro do valor dos espanhóis em jogos de sorte e azar. E importa lembrar que temos uma população quatro vezes inferior à espanhola.
Temos um grave problema por resolver e ele tem um nome: literacia financeira.
Tendemos a ignorar este aspecto nas nossas vidas porque é “chato”. Mas esquecemo-nos que é das coisas mais importantes da mesma.
Recebemos um ordenado, pagamos impostos, temos contas para pagar e muitas questões por responder. Para onde vão as nossas contribuições? Vou ter reforma? Em que devo investir? E porque devo investir?
Perante o enorme desconhecimento surgem várias “oportunidades”. Os esquemas em pirâmide, as promessas de enriquecimento fácil, estão por todo o lado.
A educação é a chave para eliminarmos este problema. Nos últimos anos investi tempo e dinheiro a corrigir a minha falta de conhecimento nessa área. Mas, infelizmente, nem todos têm essa capacidade e parece haver pouca vontade de mudar por parte de quem nos governa.
Em 2021, o governo lançou a Lotaria do Património Cultural, com o objectivo de reforçar o Fundo de Salvaguarda do Património Cultural. A forma de resolver um problema foi agravando outro. Rendeu ao estado 6 milhões de euros. Foi recentemente extinta, arrisco dizer, em resultado das muitas críticas.
No meio de tudo isto algo positivo: o Conselho Económico e Social decidiu promover um estudo sobre o impacto social do vício da “raspadinha”.
Vivo em frente a uma papelaria. Da janela da minha sala, onde escrevo este texto, vejo diariamente este problema. Idosos que gastam as suas reformas, mendigos esperam dobrar as esmolas, todos sonham com uma vida melhor, todos depositam ali as esperanças de dar um salto nas suas vidas.
Somos o país da Europa onde se gasta mais dinheiro em raspadinhas. Achamos que é normal jogar, que não há risco e esse é o maior dos riscos.
Segundo dados referentes a 2017, 30% dos portugueses diziam jogar nas raspadinhas e desses, quase um terço ganhava menos de 500€ mensais. Nos dias que correm, em que as dificuldades são diariamente agravadas, há quem deposite boa parte da sua esperança num par de moedas.
Portugal tem as taxas mais baixas da Europa em termos de toxicodependência, fruto das políticas que promoveu. Importa fazer o mesmo na área do jogo.
Cabe-nos a todos, investir no nosso conhecimento e promover o mesmo junto dos que nos são próximos. Assim como pressionar as forças políticas a mudar esta realidade.
Originalmente publicado no meu perfil LinkedIn